O Deus Presente


Mesmo tendo aquelas nuvens como barreira, Ele não deixar de existir, brilhar.



O Deus Presente

O céu se fecha e escurece

Quando chega o temporal.
Finda-se o dia e anoitece

E a luz perde o seu sinal.

Mas o astro-mor
Nunca deixa de brilhar.
Mesmo havendo negror,
Sua luz vai perdurar.

Se a dúvida te assalta
E bradas aos céus:
Algo me falta,
Onde está Deus?

Assim como o sol radiante,
Ele está sempre aqui.
Sua presença é constante,
Ele só espera por ti.

Karau_Timur, 2007

Coração Alado


Outras criações têm o mesmo título, mas não o devo mudar outra vez (antes era Voar), pois é o meu coração que voa.
Sozinho ou acompanhado, ele voa...

Coração Alado

A vida é como os pássaros quando solto o coração.
Perde-se ao longe no horizonte de uma tarde.
Também quero me perder e voar para bem longe
Na esperança de te ter noutro lugar que não aqui.


Gostava também de te ver voar nesse dia,
Ver os teus pés no ar e coração na terra.
Gostava de ver teus lábios preenchidos,
Teu sorriso contido, mas de alegria farta.

Sentar a teu lado e tua presença consentida
Num prolongado jogo de forças, dissimulado.
Momentos de arrebatamento, de leveza.
Um abraço forte, um beijo conseguido!

Contudo, habitamos ainda na terra
E nesta vida não conseguimos voar juntos.
A teu lado subi apenas um monte, por onde
Passavam pássaros ao sabor do vento.

Mais uma vez solto o meu coração alado
E ele agora abre as asas e voa para longe.
Breves, mas intensos e eternos instantes.
Tão longe e ao mesmo tempo tão perto...

Karau_Timur, 23-04-2008

Enclausurado em Ti







Esperar, esperar, esperar...
Considerando o Amor (refiro-me ao humano) como um processo e não um estado, reconheço que pode ser trabalhado para melhor ou pior e ser também conservado.
Já sob um escopo que extravaza essa sua intrínseca dinámica como processo, registo, no entanto, que quando falamos de Amor como um todo, parece-me que ele não é sincrónico em relação à evolução dos acontecimentos ao longo tempo, não é dinámico nessa perspectiva.
Estamos na era em que tudo é imediato, do crédito imediato, do carro com chave na mão, da pronta resposta que exigimos que o PC dê em menos de 2 segundos, etc.
Felizmente que o Amor foge às tendências temporais, constituindo-se assim como um dos poucos instrumentos ao nosso alcance para "domesticar" a espera, neste mundo do imediato.
Esperar, esperar, esperar... até chegar esse dia!










Enclausurado em ti

A porta está fechada.
À janela espero ver-te passar,
À janela espero-te.

De madrugada entra o frio
Pela janela
E tu somente passas.

De dia entra o sol
Pela janela,
Mas tu não o fazes.

À tarde entra a brisa
Pela janela
E tu ficas de fora.

À noite entra a lua
Pela janela
E tu não apareces.

Entram pela janela.
Contudo, a porta
Será a tua entrada.

Vejo-te passar e espero
Enclausurado em ti,
Por ti e para ti.

Karau_Timur, 2004





Descer para Elevar


Uma simples oração.
Que cada um reconheça Cristo como exemplo máximo de humildade e serviço ao próximo.



DESCER PARA ELEVAR

(Se Cristo teve que descer a esta terra para me elevar,
então prostrado, que se eleve a Ti esta minha oração
e que eu desça ainda mais até onde Cristo andou.)


I
Cristo veio, desceu.
Entre nós ele viveu,
Longe do Pai.

Desceu as ruas
Dos necessitados
Abatidos, fracos
E abandonados
Que vivem na solidão.
Cristo veio ensinar
O caminho da Salvação:
Descer para elevar.

II
Tantas vezes vivo
Lá no alto, mas cativo,
Longe de Deus.

Tenho que descer,
Deixar o meu mundo.
Ser humilde e manso,
Ir até ao fundo
E estender a minha mão.
Cristo veio ensinar
O caminho da salvação:
Descer para elevar.

Karau_Timur, Março 2008.

Sic transit gloria mundi




O lado efémero da escrita e não só.


Sic transit gloria mundi

Vazio no papel,
Tinta e letras.
Jogo de palavras,
Verdades e tretas.

Homens de barro e ferro,
Simples, ilustres e eloquentes.
Gente de todos os cantos,
Versados, alucinados e doentes.

Todos procuram em ti
Escrever a cor da alma,
Pintar na tempestade
Um pedaço de calma.

Discorrer sobre filosofias,
Acreditar na existência.
Explicar o metafísico,
Aceitar a essência.

Alguns, se encontram
Nesse infindo mundo.
Outros, nele se perdem
E batem lá no fundo.

Aplausos, louvor e fama.
Palcos, honra e glória.
Coroas de flores, extinção,
Nomes esculpidos na história.

Letras vazias em papel vazio.
Não há eclipsados e mediáticos.
Só restam letras, e os corpos
Dormem sobre lençóis freáticos.

Karau_Timur, Almeria, 2006




Comer por dentro


Ainda estou de pé!





Comer por dentro

Fricativamente sorves o meu sangue,
Tal é a sede que tens de mim.
Precisas manter-te viva.

Tuas palavras devoram-me
Como se uma fera estivesse a alimentar-se
Só do meu interior.

Farisaicamente, esventras-me
Já de barriga cheia.
Sugas-me mais sangue.

Meu corpo mantem-se de pé
Mas a alma esvai-se
Por entre rios de sal.

Se humano, erro.
Se consciente, retracto-me.
Contudo, não faço dos afectuosos
Caixa dos meus medos e descuidos.
Revejo-me no meu íntimo.

No meu passado escondes
A tua amarga inquietude
Na impossibilidade de me ter.
Enches-te das minhas entranhas
E soltas essa perigosa língua de fogo.

As palavras com que me dilaceras
Não conseguem expurgar
O medo que corre nas tuas veias.
Sentes-te já em nítida perda, lutando
Erradamente contra os teus sentimentos.

Mas de ti saem apenas palavras
Que abatem sentimentos
E momentos, mas não me matam.
Esqueço-as por serem palavras.
Esquece-me também.

Karau_Timur, 2004.

Amiga no Silêncio

A escrita como amiga e confidente. Ela recebe-nos de braços abertos...










Amiga no Silêncio



Na falta do sonido
Sinto o teu fervilhar
Em querer dar cor,
Forma e essência ao vazio.

Amiga, desprende-te e escorre
No branco do papel.
Reveste esses laivos do nada
Em doces matizes de letras.

Quando o desalento se mostra,
Todo o afecto se esvai,
Mas tua presença é certa
E não se esgota no papel.

Recolhe estas cinzas.
Eleva-as e dá-lhes forma,
Pois muitos são aqueles
Que carecem da tua seiva.

Karau_Timur, 24-08-2005

Longe



Relembrando a ida até Timor...





Longe


Cruzei a linha do Equador,

Naveguei até aos antípodas,

Contemplei o cruzeiro do sul.

Parti sem saber o destino,

Parti para me encontrar.


Tão longe!


Na noite observo a mesma lua.

Partilhamos o espaço sideral.

Outros ventos, outros mares,

Mas bafejados pelo mesmo sol.

Contudo, alheio ao teu mundo.


Tão longe!


Quanto mais aumenta o mar,

Mais aumenta a saudade.

O tempo transcorre e eu, longe.

Fora de casa, fora-da-lei

Pelo tempo que nos separa.


Tão longe!


Meu coração ressente a distância.

Meus olhos perdem-se no horizonte,

Enquanto os ventos trazem folhas

Secas, perdidas e gastas no tempo.

Perde-se mais um dia perto de ti.


Tão longe!


Sem ter os teus rubros lábios.

Ausente dos velhos amigos.

Distante do calor do lar.

Afastado do teu pequeno mundo.

Longe da terra, longe de tudo.


Tão longe!


Karau_Timur, 2004.

Amante

Partindo do principio que "amante" é aquele que ama...

















Amante


Amo a energia
Quando começo o dia.

Amo a montanha
Quando o sol por ela entranha.

Amo o mar
E nele mergulhar.

Amo o azul
Ainda mais ao sul.

Amo as canções
Que tu tão bem compões.

Amo o amigo
Que mantém a ligação de umbigo.

Amo os velhos
E escutar os seus conselhos.

Amo as crianças
Que nos trazem belas lembranças.

Amo o brilho
Do olhar do meu filho.

Amo os meus pais
E tê-los mais e mais.

Amo a sinceridade
Como expoente de verdade.

Amo a Deus
Que não se esquece dos seus.

Amo a vida,
Amo-te.


Karau_Timur, 2006.