Mariposa




Uma história vivida no tempo, diria, de amor!



Mariposa

Eu tive um nebuloso sonho
Que até então não mais esqueci.
Caminhava alegre e tu pousada
no meu ombro quando te perdi.

Levava comigo uma carta fechada,
Uma flauta e pétalas de rosa.
Mas quando veio o vento
Levou tudo, levou a minha mariposa.

Já não te posso ler
O que me vai no coração
Porque veio o vento
E tirou-me a carta da mão.

Já não sigo o cântico dos pássaros
Nem acompanho a minha pauta,
Porque veio o vento
E saqueou-me dos punhos a flauta.

Já não posso cheirar as pétalas
Que tinha entre os dedos
Porque veio o vento
E levou-as com os meus segredos.

Quando veio aquele vento,
Ainda te encontravas em mim.
E quando, apressadamente, partiu,
Deixei de saber o teu fim.

Enquanto tiver este coração,
Que o amor não mais se apague.
Se estes tristes olhos jamais te verem,
Talvez o tempo a dor esmague.

Ouve! No silêncio, grito baixinho
Que ainda te quero.
Aos ventos, grito bem alto
Que te amo e ainda te espero.


Karau_Timur, Almeria, 28 Março, 2006

Deitado em teus braços


Uma história que, embora parecendo,
nunca chegou a ser estória.



Deitado em teus braços
Brilhavam tão reluzentes
Naquele dia os teus sois
Que, cegando os meus,
Não via o destino dos dois.

Já abrigado na tua sombra,
Via-me num verde monte
Por entre muitas árvores
Que me cobriam a fronte.

Fitei o teu fino tronco,
Bailando ao som do vento.
Volúvel, ele se adaptava
A todo o meu movimento.

Os teus ramos eram longos
E a tua folhagem densa.
Davas-me guarida e sombra
Que às outras mais intensa.

Traída outra vez a vontade,
E naqueles ramos envolvido
Fecharam-se de novo os sois
Para neles ficar adormecido.

Toda a tarde naquele verde.
Toda a tarde de ti cativo
Num madeiro de carne e osso,
Naquele tronco fino e vivo.

Acordei e quis libertar-me.
Mas preso nos teus ramos
Se me apertou o coração
E naquele abraço ali ficamos.

Era noite e ainda lá estava.
Sentia-me quase a sufocar.
A tua folhagem me cegava
E nada via mais que o luar.

Depois de me deixar vencer
E tirares a minha semente,
Parti errante no escuro,
Qual fraco e perdido ente.

O arrependimento de ali estar
Limpou a minha consciência.
Contudo, não foi suficiente
Para limpar a consequência.

Hoje, ao longe, vejo o verde.
Aquele verde e fresco manto
Onde estava a frondosa árvore
Que me causou grande espanto.

Brotou então a minha semente.
Corre agora a minha seiva nela.
Cresce no meio daquele verde,
Cresce verde, cresce junto dela.

Na linha do tempo me achei
Perdido nos teus longos laços.
Perdi-me para me encontrar
Assim deitado em teus braços.

Karau_Timur, 2007