Comer por dentro


Ainda estou de pé!





Comer por dentro

Fricativamente sorves o meu sangue,
Tal é a sede que tens de mim.
Precisas manter-te viva.

Tuas palavras devoram-me
Como se uma fera estivesse a alimentar-se
Só do meu interior.

Farisaicamente, esventras-me
Já de barriga cheia.
Sugas-me mais sangue.

Meu corpo mantem-se de pé
Mas a alma esvai-se
Por entre rios de sal.

Se humano, erro.
Se consciente, retracto-me.
Contudo, não faço dos afectuosos
Caixa dos meus medos e descuidos.
Revejo-me no meu íntimo.

No meu passado escondes
A tua amarga inquietude
Na impossibilidade de me ter.
Enches-te das minhas entranhas
E soltas essa perigosa língua de fogo.

As palavras com que me dilaceras
Não conseguem expurgar
O medo que corre nas tuas veias.
Sentes-te já em nítida perda, lutando
Erradamente contra os teus sentimentos.

Mas de ti saem apenas palavras
Que abatem sentimentos
E momentos, mas não me matam.
Esqueço-as por serem palavras.
Esquece-me também.

Karau_Timur, 2004.

1 comentário:

Anónimo disse...

Oi!
Vejo que tens actualizado o teu blog...Vou entrando sempre para ver se há algum poema novo.
Bjs